Energias Renováveis

Renato Augusto Pontes Cunha

O Nordeste é uma região que vem sendo mutilada. E essa mutilação se acentuou fortemente nos últimos 15 (quinze) anos quando as políticas nacionais de equilíbrio regional começaram a minguar.

A gravidade dessa situação nos impede de pensar pequeno, sob pena de nos tornarmos, inexoravelmente, os primos pobres do Sul, Sudeste, Centro/Oeste. E ainda, até do Norte, face à riquíssima biodiversividade, associada aos fabulosos mananciais de água, daquela promissora região.

Não vamos nos acomodar com as regras da nova e tímida versão do PROINFA de 2002.

O Nordeste não pode ser condenado a permanecer, para sempre, importador de energia. Nosso potencial de geração em biomassa e energia eólica pode ir além dos 2.200 MWh, volume reservado inicialmente, pelo Proinfa para as duas fontes. O que falta é preço que viabilize investimentos, amortizando-se “pay-backs” em prazos de até 5 anos. Não faz sentido a biomassa do bagaço (maior potencial de energia limpa do Nordeste), cobiçadíssima por alemães, holandeses, europeus e demais verdes, constituir-se no lanterninha em valor econômico, via comercialização direta com a Eletrobrás, a preço de R$ 93,77 o MWh contra:R$ 103,20 da biomassa do arroz, R$ 101,35 do extrativismo da madeira, R$ 117,02 das pequenas centrais hidrelétricas e entre R$ 180,18 até R$ 204,35 da eólica.

Quais os critérios utilizados para tais paradigmas? Que campeonato é esse que já se entra em campo, logo no jogo inaugural em desvantagem?

Quais os interesses conflitantes?  

O setor sucroalcooleiro não aguarda, nem pretende, quaisquer privilégios, via preço, do Ministério de Minas e Energia. Tencionamos viabilizar equações que envolvam as variáveis manutenção, investimento e emprego. Além disso, o “self-dealer” tem que ser disciplinado. No mundo atual, a prioridade deve ser a energia limpa, quando ela for disponível, em quaisquer volumes! Nesse caso, o lógico seria aguardar a exaustão do potencial dessa energia limpa para, somente após isso, privilegiar o uso de energias de outras fontes. Essa questão das alternativas energéticas é vital. Ela diz respeito, por suas repercussões ambientais, à sobrevivência do próprio homem neste terceiro milênio. Não faz sentido preterir fontes de energia, ainda mais em se tratando de energia limpa, em região que hoje depende de importação. O convívio das renováveis, em quaisquer volumes, completadas pelas tradicionais, ditas mais gerenciáveis em constância de suprimento tem que ser o foco da nova matriz, compatível com as demandas do terceiro milênio.

O Brasil vai ter que desonerar os excessos de cargas tributária e fiscal das energias e de todos os seus produtos finais sob pena de perpetuar uma sociedade de desempregados. O moderno contrato social, brasileiro, terá que ocorrer, sobretudo via expurgos de impostos, taxas, tarifas, em razão do gravíssimo estado de desemprego num contexto, paradoxal,  de inflação controlada.

A verdade é que nos falta um “plano de vôo”, já há muito. Sua elaboração e implementação, na órbita federal precisam ocorrer de maneira suprapartidária, sem exclusões na confecção, para que sirva de bússola pelos próximos 20 ou 30 anos, com os ajustes graduais, nos tempos presente e futuro. O agronegócio, já vem tentando fazer seu papel e os resultados começam a se consolidar.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR