SETOR SUCROALCOOLEIRO: TENDÊNCIAS NO TERCEIRO MILÊNIO
Renato Augusto Pontes Cunha*

O setor sucroalcooleiro nacional, integrante da pujante agricultura brasileira, a partir de sua desregulamentação, ocorrida, no final dos anos 90 (noventa), de lá para os dias atuais, vem sofrendo grandes mutações, focadas, sobretudo em seu planejamento estratégico.

O segmento saiu de cenários de super-oferta (o Etanol chegou a ser comprado ao produtor por preços de R$ 0,25 por litro em nov-98, sem baixar na mesma proporção, para o consumidor) e de escassez de demanda nos anos noventa; época do sucateamento da frota e declínio do consumo  do álcool hidratado, com total omissão por parte do Governo Federal quanto às leis de formação de estoques estratégicos, avançando para uma perspectiva onde abraça, atualmente, a missão internacional de produzir simultaneamente alimentos e energia. A cana-de-açúcar e seus derivados já são 14,4% da matriz energética do Brasil, segundo dados do recente Balanço Energético Nacional, número equivalente à contribuição da fonte hidráulica (14,6%) e superior aos cerca de 9% do gás natural.

É fato que as matrizes energéticas do planeta estão tentando abandonar os fósseis em prol das energias promotoras de melhorias ambientais (renováveis). O agronegócio da cana-de-açúcar no nosso País, com mais de 400 (quatrocentos) anos foi, logicamente, evoluindo socialmente, ambientalmente e economicamente, à luz, inclusive, de aberturas de capitais, ou, exigentes IPO´s (Initial Public Offerings) nas bolsas de valores onde os níveis de EBITDAS (resultados antes dos lucros, depreciações e amortizações) são bastante rigorosos e alicerçados em aferições das boas condutas da governança corporativa que envolve também práticas politicamente corretas pelas empresas e seus acionistas em meio-ambiente e políticas de RH. A cultura canavieira transforma energia solar em automotiva através de processo contínuo da fotossíntese o que a caracteriza como seqüestradora de carbono e despoluidora. Assim nos dias de hoje, inexiste usina poluidora, posto que inclusive seus resíduos industriais têm finalidades econômicas.

Nosso País dispõe de 90 milhões de hectares para expansão agrícola, líquidos, deduzindo-se dos 851 milhões de hectares totais, onde cerca de 350 milhões de hectares são relativos à floresta amazônica, 220 milhões de hectares de pastagens e 55 milhões de hectares de reservas legais. A expansão é assim planejada, norteada por zoneamentos agrícolas com espacialidade nacional e, com fiscalizações do IBAMA e de órgãos estaduais de meio-ambiente que tratam, dentre outros temas, das licenças de funcionamento. Vale salientar que a cana ocupa apenas cerca de 6,7 milhões de hectares, enquanto a soja atinge aproximadamente 25 milhões e o milho em torno de 15 milhões de hectares. Nos Estados Unidos da América, somente o plantio do milho safra 07/08 atingirá algo em torno dos 36,6 milhões de hectares e não se fala em “monocultura”. No quesito empregabilidade, a grande maioria de nossos postos de trabalho oferece dignos alojamentos, refeitórios, fardamentos, medicina ambulatorial, atendimentos odontológico e oftalmológico, transporte e estrutura de lazer. A valorização da mulher e da espiritualidade, por exemplo, são práticas rotineiras em varias usinas, como o caso da Usina Cucaú-PE, que realiza com regularidade, palestras sobre ginástica laboral, saúde e beleza, finanças pessoais, auto-estima e etc. Em nenhum País do mundo se investe tanto, como no setor sucroalcooleiro do Brasil, em refeitórios itinerantes, barracas sanitárias individuais, abastecimento de água potável no campo e em treinamento agrícola.

O segmento em Pernambuco foi pioneiro nas certificações ABRINQ, com base no pacto Paulo Freire e hoje contamos com 15 (quinze) selos de conduta. A inclusão digital em muitas usinas é fato corriqueiro e nas mais de 100 escolas onde o setor é parceiro do Estado e/ou Município, já há inclusive educação de 2° grau (Usina São José-PE). Tudo isso é feito com muito esforço e com muitas incertezas, num País onde o macro-ambiente econômico é volátil, com política cambial de exportações atuando em efeitos sobe e desce a cada 2 ou 3 meses, e, com mudanças econômicas nos juros internos sem pré-aviso.

O que estamos buscando nessa fase mundial onde as agroenergias ganham vez é livrar-nos dos estigmas e dos preconceitos e continuaremos, todos nós, da cana-de-açúcar, lutando por corrigir eventuais distorções, porventura imponderáveis, e, sobretudo perseguindo sustentabilidade para ser legada aos nossos descendentes. Para isso é importante que o Governo Federal torne o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) um projeto que desonere a carga tributária dos nossos produtos finais, tornando-os, internacionalmente competitivos, além da realização de investimentos relevantes em infra-estrutura, como o canal do sertão e a Transnordestina sem esquecer as políticas compensatórias, como forma de equilibrar o desenvolvimento dentro da federação brasileira com conseqüente redução das disparidades de renda regionais.
* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)