O Brasil e as biocommodities
Renato A. Pontes Cunha

No terceiro milênio, as biocommodities, ou mercadorias de origem vegetal, distinguir-se-ão na competitividade dos mercados internacionais de alimentos e de energia. A agricultura, já está dividida em agricultura energética e agricultura alimentar. No caso do segmento sucroalcooleiro, estamos inseridos na agricultura alimentar com o açúcar (carboidratos) e também na agricultura energética com o álcool. O álcool é responsável por considerável melhoria ambiental - assim como também o bagaço da cana - que é fonte extremamente nobre para energia elétrica, limpa, oriunda da biomassa.
Inúmeros produtos já estão sendo produzidos e, no decorrer deste século, novas tecnologias surgirão no contexto sucroalcooleiro. Por exemplo: plásticos biodegradáveis provenientes do bagaço de cana, pirólise de biomassa destinada à fabricação de óleos combustíveis verdes para pequenos geradores de energia, etanol a partir da biomassa, compostos orgânico-alimentares para ração animal, briquetes de bagaço para alimentação orgânica de gado, fertilizantes orgânicos de vinhaça (potássio), bebidas (runs e aguardentes), créditos de carbonos seqüestradores de Co2, etanol como combustível verde e alimentador de térmicas estacionárias, além de biodiesel e da glicerina destinada à fabricação de solventes nas indústrias de tintas e outros.
No que se refere ao biodiesel, o SINDAÇÚCAR e o ITEP, com a participação do tradicional Instituto Nacional de Tecnologia - MCT do Rio de Janeiro, estão em negociação para a arquitetura de um convênio pioneiro no Nordeste. O biodiesel será utilizado em nosso Estado, a exemplo do que já vem ocorrendo no Paraná, onde os ônibus de Curitiba estão trafegando com Diesel etílico, não poluente e redutor de preços do diesel in natura. Naquele Estado chegaram à conclusão de que misturas acima de 5% devem ser elaboradas com um óleo orgânico emulsionante, fabricado com sucesso no Mato Grosso, a partir da soja.
No Nordeste, à luz dos estudos que serão iniciados com o ITEP, pretendemos desenvolver biodiesel com até 5% de mistura de Etanol e além desse percentual, via óleos de soja, amendoim, dendê, mamona, etc., de acordo com a vocação agrícola de cada região.
O mundo vem investindo nas commodities que promovem a valorização rápida e sustentada do meio-ambiente e também pelo fato de serem infinitas, inesgotáveis e renováveis. É necessário apenas que sejam economicamente viáveis.
Não foi à toa que a tônica do encontro recente entre os Presidentes do Brasil e dos Estados Unidos foi centrado sobre o potencial de suprimento brasileiro em energias renováveis para um país como os Estados Unidos, consumidor de mais de 4% ao ano de novos volumes de energia direta. Nosso país, com seus mais de 90 milhões de hectares agricultáveis, ainda disponíveis para a agricultura, vem liderando a produção de cana-de-açúcar, laranja e café; ostentando o segundo lugar no mundo na produção de soja (52 milhões de toneladas), carne bovina, frango e milho; desfrutando o terceiro lugar entre os produtores mundiais de frutas, gozando assim da mais firme oportunidade para suprir o mercado mundial de agricommodities. Estamos fazendo no Brasil uma agricultura “terciária”, onde, a automação, tecnologias de produtividade e de logística saltam aos olhos.
Estamos consolidando uma civilização tropical e agroindustrial que deve, num futuro muito próximo, eliminar tantas de nossas assimetrias. As reformas que tramitam no Congresso nacional são alavancas importantes para a passagem de um cenário de pobreza, no mínimo, à segurança alimentar, com a conseqüente incorporação de cerca de 16 milhões de brasileiros que hoje vivem completamente excluídos do exercício da cidadania.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR