Centrais produtoras de energias |
Renato
Augusto Pontes Cunha |
O segmento sucroalcooleiro vem se reestruturando e amplia gradativamente seu foco de trabalho. A partir de 2000, passou a abraçar também o setor elétrico, através da produção de energia de biomassa ou bioeletricidade, oriunda do bagaço da cana-de-açúcar. Trata-se da integração do conceito de “centrais agroenergéticas”, que consolida uma vocação de compartilhamento entre a industrialização de alimentos (açúcar) e a de biocombustíveis. Essa vocação vem ganhando densidade, sobretudo após a criação pelo Governo de base normativa para os biocombustíveis, através da MP n° 227/04. Essa base legal pode dar início ao estabelecimento de medidas fiscais de competitividade do biodiesel etílico, a partir da soja, no Centro-Su,l e da mamona e da palma no Semi-Árido nordestino. Para se chegar ao biodiesel, tanto a soja, como a mamona e a palma são submetidas a um processo de transesterificação, com a retirada da glicerina que prejudica os motores, através de 15% da mistura do etanol de cana-de-açúcar. Estimativas científicas do Ministério de Minas e Energia comprovam que 1 tonelada de biodiesel etílico evita a produção de mais de 2,3 toneladas de CO2. Na União Européia, informações sinalizam que, até 2010, 20% dos veículos estarão operando com combustíveis renováveis. Ocorre que naquele continente não haverá espaço para o cultivo, nem disponibilidade industrial para o suprimento anual de mais de 1 bilhão de litros. O Brasil, que desde 1975 firmou-se no domínio da produção de combustíveis alternativos, está também criando condições para se consolidar como líder em biodiesel. Isso favorecerá a eliminação de cerca de 17% de importação de diesel fóssil que ainda consumimos anualmente e se traduzirá numa economia de cerca de US$ 160 milhões. A citada MP n° 227 é um estímulo do Governo Federal para que a expansão da produção de óleos vegetais seja acelerada, com marcos regulatórios de percentuais de misturas no diesel fóssil em escala que irá de 2%, em 2005 (800 milhões de litros), até 5%, em 2009 (cerca de 2 bilhões de litros). Embora com o biodiesel brasileiro tendente a se regionalizar na agricultura de soja no Centro-Sul e na de mamona e/ou palma no Nordeste, é recomendável, de acordo com os estudos de Universidades, um programa de subvenções capaz de permitir que as bases agroindustriais se consolidem no decorrer dos próximos dez anos, atrelando-se as subvenções a benefícios ambientais. O setor do petróleo extrai do óleo fóssil bruto, o diesel e gasolina, dentre outras mercadorias. Por sua vez, o setor sucroalcooleiro começa a desenvolver integração, no seu circuito auto-produtor de energia, entre alimento, álcool e biodiesel em sinergia análoga às fábricas de derivados de petróleo. O caminho que começa a ser desenhado pelos grandes fabricantes nacionais de equipamentos agroindustriais é aquele de potencializar e adaptar as fábricas de açúcar e álcool para compartilhamento, anexo, de processos compactos de produção de biocombustíveis limpos. Nesse contexto, as experiências piloto em curso, notadamente no cerrado do Mato Grosso, já envolvem o complexo agroindustrial de soja, biocombustíveis e etanol. Trata-se assim, de forte indício que a iniciativa privada pretende, profissionalmente, consolidar a nova ordem global dos combustíveis limpos em operações que se desdobrem na formação de novas cadeias produtivas de resultados sócio-econômicos continuados.
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Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do
Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR (rcunha@sindacucar.com.br) |