O BRASIL NUMA PERSPECTIVA DE MAIS LONGO PRAZO

Renato Augusto Pontes Cunha*

A Revista inglesa “The Economist”, mundialmente conhecida, que vem sendo publicada desde 1843, em sua edição da semana de 14 de abril, próximo passado, publicou um relatório especial sobre o nosso País, com o título “O sonho de uma glória”. O documento composto por cerca de 14 páginas aponta uma perspectiva alvissareira para a Economia brasileira, citando que o País é grande, democrático, estável e rico em recursos naturais, faltando pouco para obter melhores taxas de desenvolvimento. O Brasil é citado como uma terra de eternas promessas de crescimento, mas que reúne fortes condições para se firmar como potencia do 3° milênio. Os enfoques, apesar de um pouco exagerados em otimismo, ao mesmo tempo, denotam que nosso País vem sendo objeto de grande atenção quanto às perspectivas de seu crescimento, por parte do mercado financeiro internacional, a exemplo da Rússia, Índia e China, que conjuntamente com o Brasil, formam os chamados “Brics”.

Os Presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva são elogiados e os comentários mostram que o País, a partir de 1994, pós-plano real e até os 16 anos de estabilidade no fim do Governo Lula em 2010, certamente alcançará uma credibilidade internacional muito positiva com a obtenção, em questão de tempo, do “investiment grade credit rating” que nos diferenciará na comunidade financeira internacional, acarretando mais estabilidade e aumento dos níveis no fluxo dos investimentos externos. Estimam os analistas da revista que na década de 2010-2020, o País poderá crescer, anualmente, mais do que os 4% previstos para 2007. Alguns destaques merecem forte caracterização internacional, como a força da bolsa BMF, o poder do agronegócio, envolvendo as positivas performances das carnes, do etanol, das frutas de Petrolina com suas 2 (duas) safras anuais e principalmente por possuirmos a floresta amazônica, o principal antídoto mundial para o efeito estufa. Merecem relevo ainda, a privatização em 1997 da Vale do Rio Doce e sua internacionalização através da aquisição da INCO no Canadá, o sucesso de vendas dos aviões executivos da Embraer, a expansão da Gerdau e até a fusão entre Submarino e Americanas no segmento interno de e-commerce. O Bolsa Família é elogiado como instrumento de políticas públicas de transferência social de renda, e, como nem tudo são flores, o déficit da Previdência Social e os lastimáveis resultados de nossa educação pública são fortemente condenados, conjuntamente com as desigualdades sociais existentes, mais claramente visíveis nas “favelas brasileiras”, que certamente induzem à violência urbana, favorecendo inclusive a perpetuação de núcleos urbanos eivados de desigualdades sociais.

Algumas afirmações contidas no documento e que traduzem, um pouco da visão internacional de analistas financeiros sobre o nosso Brasil, são assim citadas; “O Brasil está se movendo na direção do setor imobiliário e as exportações dobraram desde 2003, mesmo com crescimentos anuais em torno dos 4% aa. O déficit público é administrável e a distribuição de renda ocorre, um pouco menos desigualmente do que nos anos 80 (oitenta). O País enfrenta apagões aéreos e 11% dos gastos públicos da previdência, se destinam a pensões com pessoas jovens”.

Com relação às taxas de câmbio, a reportagem também aborda a possibilidade da desindustrialização brasileira, com o real sobrevalorizado, o que estimula importações e sucateamento do parque industrial, situação que precisa ser resolvida com brevidade sob pena da obsolescência industrial.

O estudo analisa o custo trabalhista do País, considerando-o muito alto e formado com inspirações nas leis italianas da era “Mussolini”, representando relações de trabalho arcaicas que refletiam os corporativismos, presentes na Europa de 1920.

Por conseguinte, chegamos à conclusão de que o trabalho constante no “The Economist”, traça um perfil crítico do Brasil, salientando, principalmente, nossas grandes assimetrias, com um País ainda caracterizado por “UP´s + Downs” (subidas e descidas) em sua macro-economia, o que estimula a formação de um cenário profícuo a investimentos externos em busca de oportunidades de crescimento, embora com riscos, prováveis, de atrasos nas maturações dos projetos.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)