Pernambuco e o Rejuvenescimento do Proálcool
Renato A. Pontes Cunha

Os contingentes de produção de canas de Pernambuco, vêm, safra a safra, via de regra, diminuindo, função principalmente das intempéries climáticas na última década e face ao desleixo com que o Governo Federal trata os recursos da equalização canavieira, impingindo a nossa região, penosos reflexos sócio-econômicos. Em Pernambuco, mais de 50 municípios têm a cana como a principal renda da população.

Em meados dos anos 80, produzíamos em torno de mais de 25 milhões de toneladas de canas, precisamente, 25.760 milhões na safra 1986/87. Na atual safra 2002/03, esmagamos 14,63 milhões de toneladas. A perda é significativa, equivalendo à produção atual a apenas 56,7% daquela realizada em 1986/87 (diminuição anual de cerca de R$ 300 milhões em receitas).

Os estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, nas últimas 5 (cinco) safras vêm procurando crescer, notadamente por disporem de áreas planas para a cultura canavieira. Produziram, na safra recém finda 2002/03, 14,29 milhões de toneladas em Minas Gerais, 12,38 milhões em Mato Grosso e 9,82 milhões de toneladas em Goiás. A nossa produção foi de 14,63 milhões de toneladas.

Pernambuco ainda lidera, mas, certamente por pouco tempo, já que, os crescimentos de Minas Gerais e Mato Grosso vêm ocorrendo de maneira sustentada.

Alagoas, nosso estado vizinho, sobretudo em função de seus tabuleiros de areia na Mata Sul do Estado, direção de Sergipe, atualmente produz cerca de 22 milhões de toneladas de canas. São Paulo com 190 milhões, Paraná com cerca de 24 milhões e Alagoas (22), detêm a dianteira nos quadros brasileiros de produção. Ainda estamos na quarta posição em volume de canas, mas poderíamos ser o segundo, posto que, na safra 1986/87, chegamos a produzir 25,7 milhões de toneladas.

Considerando-se que Minas Gerais e Mato Grosso têm consolidada tradição agrícola e contam com excelentes terras agricultáveis em áreas ainda disponíveis, o que só poderá ocorrer com Pernambuco, se otimizarmos as terras do sub-médio São Francisco e do sertão com canais de irrigação, a partir de Sobradinho (Projeto Sertão Pernambucano), só assim, haverá condições de competirmos em condições de igualdade, notadamente por tratarem-se de terras planas, com luminosidade e fertilidade de solo adequadas, necessitando da irrigação, com vistas a crescimento agrícola sustentado.

Pernambuco não pode ficar de fora das perspectivas de crescimento agrícola do país, e, só estará inserido se o Governo Federal construir o canal agrícola do sertão, para irrigação da cana-de-açúcar e de outras culturas, bem como, criar uma rotina, a ser religiosamente cumprida, relativa à equalização canavieira. Estes recursos, gerados com a “CIDE” (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico) dos combustíveis, inclusive oriundos de nosso álcool, constitucionalmente têm destinação prevista, voltada à infra-estrutura de transportes, melhoria do meio-ambiente e equalizações de preços no álcool, petróleo e gás. Portanto, devem retornar ao produtor, em valores compatíveis com as planilhas de custo setorial da FGV, e, em época, anterior ao início dos plantios, geralmente, no Nordeste, em maio/junho de cada ano.

A criação e sustentação de novos negócios, com geração de renda e emprego é tarefa bastante árdua. No nosso Oeste, existem terras com excelentes manchas de solo. Ora, o novo sertão de Pernambuco precisa ser edificado com a cana-de-açúcar fazendo sinergia com as frutas. A cana quer ir acoplada à agroindústria sucroalcooleira, o que é garantia de equação comercial. Sua agricultura não é aventura, mas certeza de geração de emprego, de renda, de alimentação da pecuária, energia elétrica e rica emulação sócio-econômica no seu entorno.

Nós estamos engajados nessa luta, porque nossa gente tem tradição de competição e empreendedorismo. Estamos trabalhando para competir agora, com terras planas, irrigadas, com matriz de custos adequada. Não podemos deixar de aproveitar o atual rejuvenescimento do Proálcool. Assim, estaremos nas mesmas condições dos nossos atuais competidores e fornecendo a nosso estado uma nova opção, consistente, de empregabilidade e de renda, que associada aos contingentes do litoral, das 2 (duas) zonas da mata, permitirá a Pernambuco voltar a liderar o Nordeste canavieiro, fazendo com que haja multiplicação de ganhos para os pernambucanos, envolvidos, direta ou indiretamente, no agronegócio da cana-de-açúcar. Neste particular, o Governo Estadual e parlamentares federais vêm nos apoiando, o que constitui, reforço decisivo nesse nosso intento junto ao Governo Federal.


* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR