Oportunidades e Ameaças na Indústria de Cana-de-Açúcar

Renato Cunha*

O Brasil vive, fase de eficiente controle, desse grande patrimônio de nosso povo, qual seja; a estabilidade monetária.

Os jornais, no final de maio, mostraram que o crescimento do PIB, no primeiro trimestre do ano, foi insignificante. Seria prenuncio de crescimento anual em 2012 de menos de 2%, ou ainda, menos de 1%?

Pernambuco, no conjunto de sua economia, vive, ainda bem, realidade diferenciada, fruto da transformação propositiva, histórica e dinâmica, de sua infraestrutura e do prestígio e probidade dos seus governantes.

A maior parte da indústria de exportação do país, sofreu muito nos últimos tempos, com a sobrevalorização do real. As importações proliferaram, o que, contribuiu para contexto, muito semelhante, ao da desindustrialização.

Há freios para investimentos, inclusive, quando existem disponibilidades de  recursos, principalmente pela montanha russa do crescimento econômico, num zigue-zague perverso.

As importações de itens supérfluos, produtos baratos, sem tantos encargos fiscal e trabalhista em suas origens, constituem perversa realidade, num movimento inverso, às substituições de importação, modelo contrário ao da CEPAL nos anos cinquenta, que realizou a industrialização por substituição de importações-(isi), na Era Raul Prebisch.

Na realidade, como dizia Keynes, "sem perspectiva de lucro, não há investimento".

O Governo Federal procura acertar, mas ainda faltam políticas setoriais de desenvolvimento continuado.

Na indústria de cana-de-açúcar, existem oportunidades iminentes e ameaças, já em muito instaladas, vejamos:

  1. As oportunidades repousam no fato de termos no Brasil uma agricultura tropical eficiente (melhores rendimentos em litro de etanol por hectare do que em  quaisquer outras matérias-primas para a bioenergia).

  2. Estudos atuais, da USAID e FAO, assim como do especialista em agronegócios e agroenergia, ex-presidente da UNICA, Marcos S. Jank, atestam que até 2050 a população do mundo sairá de 6 bilhões de pessoas para 9 bilhões, com melhoria de  renda e consequente necessidade de consumo mundial de alimentos, energia, infraestrutura e tudo mais. Assim, o planejamento terá que sair do curto prazo, sob pena de crônico desabastecimento.

  3. A China,com apenas cerca de 10 a  15% de terras agricultáveis, os indianos, africanos e todos nós, consumiremos mais alimentos, água, bens duráveis,etc.

  4. O etanol constitui em nossa opinião e de especialistas,o melhor e mais completo programa de energia, da fotossíntese, existente no globo, evitando-se o aquecimento global e promovendo redução de efeito estufa em investimentos que  não são mirabolantes, além de gerar a bioeletricidade oriunda do bagaço de cana e futuramente, o Etanol Celulósico, de segunda geração (fortalecimento das pesquisas).

  5. Numa visão de médio prazo, houve abertura tarifária nos mercados internacionais, quanto à exportação e importação da commodity energética limpa (etanol), como existe na circulação de petróleo fóssil.

  6. O Brasil ainda dispõe de considerável número de terras agricultáveis. Na cana-de-açúcar, dados de 2011 atestam que a cultura ocupa cerca de 8,3 milhões de hectares.

Alagoas e Pernambuco ocupam, respectivamente, cerca de 417 e 380 mil hectares. São os sexto e sétimo colocados.

Em função, sobretudo, da infraestrutura proporcionada, historicamente, pelo Governo Federal, da estabilidade climática, disponibilidade de terras, topografia propícia, e investimentos, públicos, maciços no Centro Sul, o ranking, das maiores áreas se encontra em:

São Paulo 4,6 milhões de hectares, Minas Gerais com 743 mil, Paraná 660 mil e Goiás num total de 572 mil.

Vale lembrar que nosso país tem know-how consolidado, constituindo-se no maior produtor mundial de cana e de açúcar, além do segundo maior produtor de etanol e o maior exportador de açúcar no mercado mundial.

Contudo, manter esses ativos tem sido tarefa hercúlea. Ainda mais no Nordeste do Brasil, onde as secas têm sido cíclicas e, consequentemente, redutoras dos fluxos de caixa do segmento sucroenergético.
 
Nas ameaças, os riscos regulatórios não são fantasia, posto que as legislações são  extremamente complexas e subjetivas, tanto no mundo trabalhista como nos campos fundiário e ambiental.

Existem restrições, inclusive, ao ambiente de investimentos das empresas nacionais controladas por capital estrangeiro, não especulativo, isto é aquele que gera e preserva empregos aqui.

A infraestrutura de escoamento da produção é em grande parte obsoleta e precária.

A relação cambial dólar x real uma grande incógnita quanto aos comportamentos das tendências.

O zoneamento agrícola, que não é lei, mas tem força, em sua aplicação pelo executivo, repleto de burocracias, contingencias e restrições quanto ao uso das terras e por fim, a asfixiante política de paridade da gasolina vis-à-vis o etanol, amplamente desfavorável ao combustível verde, além, obviamente, da carga fiscal dos produtos finais, superior a mais de 40%, o que torna o custo Brasil exorbitante.

As soluções existem. A CIDE pelo artigo 177 da Constituição Federal está autorizada e foi concebida para ser utilizada na melhoria da indústria do meio-ambiente. É assim, uma fonte de recursos densa.

Por conseguinte, confiamos que o Governo Federal recupere o estímulo aos investimentos, como fez recentemente, com a redução do IPI dos automóveis, aliás, indústria já protegida por tarifas de importação que barram a livre internação, de outros modelos estrangeiros, que poderiam chegar mais baratos ao brasil.

No entanto, os veículos, na maior parte, com a moderna tecnologia flex, só poderão funcionar com etanol, se houver desoneração programada:por exemplo de PIS e COFINS, com vistas à recuperação de competitividade do hidratado para com a gasolina.

Acreditamos que o etanol não será descartado, mais uma vez, como ocorreu nos anos oitenta, afinal, o Governo Federal sabe de sua relevância ambiental e socioeconômica, sendo uma grande contramão se omitir em aperfeiçoar a indústria de cana-de-açúcar, geradora mais de 1,2 milhões de empregos diretos, envolvendo só de faturamento direto, em anos de preços conservadores, cerca de R$ 58 bilhões, além de um efeito multiplicador fantástico em todo o seu agricluster.

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do
Álcool no Estado de Pernambuco – SINDAÇÚCAR

 

* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR
(rcunha@sindacucar.com.br)