Responsabilidade Social Corporativa |
Renato
A. Pontes Cunha |
O SINDAÇÚCAR e 13 (treze) empresas sucroalcooleiras de nosso estado detêm o selo ABRINQ de erradicação do trabalho infantil. No entanto, não pretendemos restringir nossa responsabilidade social corporativa aos cerca de 17.500 alunos que freqüentam nossas 125 escolas. O horizonte a ser perseguido é mais amplo e, por isso, estamos procurando participar de iniciativas que levem a uma maior amplitude nos compromissos sociais, a exemplo das que estão sendo propostas pelo Instituto Ethos. Na semana passada, iniciamos nossa integração à rede de solidariedade desse Instituto, participando, em São Paulo, de evento conduzido por Leonardo Boff e patrocinado por seus atuais 754 membros. Fomos sensibilizados pela palestra de Boff que tentou mostrar como a filosofia Ethos (ética em grego) estava voltada para o desenvolvimento sustentado e a disseminação da prática da responsabilidade social empresarial. O Ethos tem a ética como alicerce e, em relação às questões sociais, seu foco é abrangente: vai desde o cuidado com o meio ambiente, com conseqüentes adoções de princípios ambientalistas, até a adoção de códigos de reciclagem, prevenção de poluição e consumo racional de água e energia. O Instituto maneja com a diversidade de contratações em RH (fontes diversificadas), diretrizes contra o assédio sexual, treinamento, equilíbrio de jornadas entre família e trabalho, saúde, segurança e bem-estar. A interação com os stakeholders (suportadores) da empresa com o trabalho voluntário, iniciativas filantrópicas, educação e projetos comunitários compõe o leque de suas atividades. Trata-se de uma prática em cadeia, cuja ação construtiva envolve fornecedores, fabricantes, distribuidores a varejo e consumidores. Essa cadeia logística tem hierarquias ética e ecológica, além de comunicação externa ambiental. Leonardo Boff também tem procurado oferecer à rede de participantes uma perspectiva teórica que permite observar os seres humanos como elos de uma corrente de vida; isto é, seres afetivos, racionais e sensíveis. Assegura que homem vem de húmus, e o húmus é fertilidade. Para ele, a animalidade transforma-se em humanidade quando o recoletar significa se traduzir na divisão fraternal do pão (companheirismo). Explica ainda que o mundo atual é caracterizado pelo descuido e que a empresa tem o dever social de ser benevolente. Dentro dessa perspectiva, o homem deve também ser movido por ternura, vigor, trabalho e cuidado. Salienta que é necessário investir em nossa educação ecológica, sob pena de o planeta, num futuro próximo, tornar-se inviável para nossos descendentes. A adoção de novos valores e de novo padrão comportamental afetivo e racional será fundamental para a eliminação dos estresses nos ecossistemas. Boff sugere que o chamado terceiro setor (social) tenha prioridade no dia-a-dia das empresas e que sejam criados programas acarretadores de benefícios sociais continuados. O novo contrato social global que premia a atual competitividade entre empresas levaria os consumidores a privilegiarem empresas socialmente responsáveis. Assim, a tendência de forte crescimento de redes de relacionamento social, obrigaria as empresas que não privilegiarem o caráter multidimensional e sistêmico do social a comprar mais caro e a vender com deságios. Essa nova exigência acabaria por levar muitas delas ao desaparecimento. Por fim, conclui que a razão é posterior à afetividade e que o caminho para a adequada qualidade da vida é somente poder ser trilhado através da ética e da responsabilidade social. |
* Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR |